As Ideias de Minhas Aulas

Conteúdos da Faculdade de Pedagogia e breves considerações

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Signo linguístico

Durante esse período, seguindo a ementa do curso de Pedagogia, segui os rastros da produção de texto e da leitura como forma de (re)significar a realidade.

Os nomes Mikhail Bakhtin, Friedrich Nietzsche, George Orwell e Roland Barthes foram ofertados aos alunos para que a (re)significação partisse do signo linguístico.

Ocorreram muitas aulas para que esse conteúdo fosse um pouco assimilado.

Na obra-prima "1984", de Orwell, um personagem trabalha para o poder, cuja função é dar aos significantes significados conforme esse mesmo poder. Como declara Syme no livro, "é lindo destruir palavras".

Um nome que não apresentei em sala foi Gilles Deleuze. Para reforçar a ideia de signo linguístico, seu texto amplia mais esse assunto. Neste blogue, deixo trechos de dois livros: Deleuze, a arte e a filosofia, de Roberto Machado, e Proust e os signos, de Gilles Deleuze.

1. “Aprender diz respeito essencialmente aos signos.” ("Deleuze, a arte e a filosofia", de Roberto Machado)

1.1. O signo é o que força o pensamento em seu exercício involuntário e inconsciente, isto é, transcendental (...). (...); fazendo violência ao pensamento, os signos forçam a pensar ou a buscar o sentido ou a essência. (pág. 197)

1.2. Mas, se o objeto do aprendizado são os signos, seu objetivo é a interpretação ou a boa interpretação. Aprender é interpretar e interpretar é explicar ou explicitar o signo enunciando o sentido, ou a essência, que nele estava oculto ou latente. Desse modo, a correlação signo-sentido significa que o signo é o enrolamento, o envolvimento, a implicação do sentido, e o sentido é desenrolamento, o desenvolvimento, a explicação do signo. O sentido, ou a essência, vive enrolado no signo, no que nos força a pensar, e só é pensado quando somos coagidos ou forçados. (pág. 197)

1.3. A razão que dá má interpretação são as ilusões provenientes de que o signo, na realidade, está ligado tanto ao objeto que o emite quanto ao sujeito que o decifra. A ilusão, por exemplo, de que a arte deve descrever e observar, como faz, por exemplo, a literatura realista. (pág. 198)

2. "Proust e os signos", de Gilles Deleuze.

2.1. Aprender diz respeito essencialmente aos signos. Os signos são objeto de um aprendizado temporal, não de um saber abstrato. Aprender é, de início, considerar uma matéria, um objeto, um ser, como se emitissem signos a serem decifrados, interpretados. Não existe aprendiz que não seja “egiptólogo” de alguma coisa. Alguém só se torna marceneiro tornando-se sensível aos signos da madeira, e médico tornando-se sensível aos signos da doença. A vocação é sempre uma predestinação com relação a signos. Tudo que nos ensina alguma coisa nos emite signos. (Pág. 4)

2.2. Não se descobre nenhuma verdade, não se aprende nada, se não for por decifração e interpretação. Mas a pluralidade dos mundos consiste no fato de que estes signos não são do mesmo tipo, não aparecem da mesma maneira, não podem ser decifrados do mesmo modo, não mantêm com o seu sentido uma relação idêntica. (Pág. 5)

2.3. O primeiro mundo da Recherche é o da mundanidade. Não existe meio que emita e concentre tantos signos em espaços tão reduzidos e em tão grande velocidade. (Pág. 5)

2.4. O signo mundano surge como o substituto de uma ação ou de um pensamento, ocupando-lhes o lugar. Trata-se, portanto, de um signo que não remete a nenhuma outra coisa, significação transcendente ou conteúdo ideal, mas que usurpou o suposto valor de seu sentido. (...). Não se pensa, não se age, mas emitem-se signos. (...) O signo mundano não remete a alguma coisa; ele a “substitui”, pretende valer por seu sentido. Antecipa ação e pensamento, anula pensamento e ação, e se declara suficiente. Daí seu aspecto esterotipado e sua vacuidade, embora não se possa concluir que esses signos sejam desprezíveis. (Pág. 7)

2.5. O segundo círculo é o do amor. (...). O ser amado aparece como um signo, uma “alma”: exprime um mundo possível, desconhecido de nós. O amado implica, envolve, aprisiona um mundo, que é preciso decifrar, isto é, interpretar. (Pág. 7)

Em outro momento, deixarei mais sobre signo segundo Deleuze.

domingo, 11 de abril de 2010

Dos dia 12 ao dia 15


Nesta segunda, continuarei a marcar a leitura de Caderno de Orientação Curricular de Língua Portuguesa. Depois, ainda relacionado a esse texto, pedirei um trabalho de grupo sobre historicismo literário, tendo como base o livro História da literatura: o discurso fundador, organizado por Carmen Zink Bolognini.

Ainda reapresentarei o texto que os alunos escreveram sobre "fantasia". Reescreverão outra vez.

Além disso, deixo aqui uma forma de reorganizar o texto de um aluno de 7 anos.

Sou caçador bom!! (1ª série)

1. Em um primeiro momento, consideramos um só parágrafo.

"Um dia eu fui para a floresta com a minha família. Quando chegamos la, eu vi caçadores matando animais. Os guardas florestais prenderam os caçadores. Eu falei para minha mãe se eu poderia ajudar os guardas. Ela deixou e eu fui falar para a delegacia se eu poderia ajudar. O chefe deixou, e eu ja sou um guarda florestal. O chefe me chamou e disse: “você vai ter que prender o caçador Marcos da Silva ele quer matar animais. Eu fui la e prendi o tau Marcos, toda noite a gente resa a Ave Maria o Santo Anjo para eles não matarem os animais por que eu sei que eles tambem tem vida como a gente."

2. Priorizar a organização interna para reorganizar as frases-oracionais; mas, antes, enumerar a divisão interna.

1. Um dia eu fui para a floresta com a minha família. 2. Quando chegamos la eu vi caçadores matando animais. 3. Os guardas florestais prenderam os caçadores. Eu falei para minha mãe se eu poderia ajudar os guardas. Ela deixou e eu fui falar para a delegacia se eu poderia ajudar. 4. O chefe deixou, e eu ja sou um guarda florestal. O chefe me chamou e disse: “você vai ter que prender o caçador Marcos da Silva ele quer matar animais. 5. Eu fui la e prendi o tau Marcos, toda noite a gente resa a Ave Maria o Santo Anjo para eles não matarem os animais por que eu sei que eles tambem tem vida como a gente.

4. Reorganizar as partes enumeradas.

(1) Um dia eu fui para a floresta com a minha família.

Reorganizado
- Um dia, eu fui para a floresta com a minha família.

(2) Quando chegamos lá, eu vi caçadores matando animais.

Reorganizado - Quando chegamos, vi caçadores matando animais.

(3) Os guardas florestais prenderam os caçadores. Eu falei para minha mãe se eu poderia ajudar os guardas. Ela deixou e eu fui falar para a delegacia se eu poderia ajudar.

Reorganizado - Os guardas florestais prenderam esses malvados. Falei para minha mãe se eu poderia ajudar os defensores dos animais. Ela deixou. Depois, falei para o delegado se eu poderia contribuir.

(4) O chefe deixou, e eu ja sou um guarda florestal. O chefe me chamou e disse: "você vai ter que prender o caçador Marcos da Silva ele quer matar animais.

Reorganizado
- Ele permitiu e hoje eu já sou um guarda florestal. Ele me disse: “Você terá de prender o caçador Marcos da Silva, porque ele quer matar os animais.


(5) Eu fui la e prendi o tau Marcos, toda noite a gente resa a Ave Maria o Santo Anjo para eles não matarem os animais por que eu sei que eles tambem tem vida como a gente.

Reorganizado - Prendi o tal Marcos. Toda noite, nós rezamos [ave-maria] para eles não matarem os animais, porque eu sei que eles também têm vida como os seres humanos.

(5) Com as partes reorganizadas, formar outra vez um único parágrafo todo organizado.

Reorganizado - Um dia eu fui para a floresta com a minha família. Quando chegamos [ao local ], vi caçadores matando animais. Os guardas florestais prenderam [esses malvados]. [Eu] Perguntei para minha mãe se eu poderia ajudar [os defensores dos animais] guardas e ela deixou. [Como ela deixou ou depois], falei para [o delegado] se eu [poderia contribuir]. [Ele] permitiu e hoje já sou um guarda florestal. Ele me disse: “Você terá de prender o caçador Marcos da Silva, porque [ele] quer matar animais.” Prendi o tal Marcos. Toda noite, nós rezamos [ave-maria] para não matarem [os bichos], porque eu sei que eles também têm vida como os seres humanos.

Breves considerações

Não se trata de uma reconstrução definitiva; mas, recontruída com os alunos em sala, eles percebem, por exemplo, que termos repetidos podem ser substituídos por outros.

Depois de haver aula sobre essa reconstrução, o professor precisa criar exercícios gramaticais relacionados ao texto. Evidente que o professor não precisa ficar preso somente a essa relação texto-gramática, podendo criar ativididades que possam ampliar, por exemplo, o vocabulário do aluno.

Não só. Leitura é paralela à refacção textual. Um bom autor, não um livro qualquer, e o aluno deve ler no ensino fundamental oito livros na escola pública. A seleção desses livros precisa ser criteriosíssima.

domingo, 4 de abril de 2010

A linguagem do enunciado


Para segunda-feira, dia 5 de abril, os grupos apresentarão sua compreensão de uma parte do livro Estética da criação verbal.

1) Da Estética da criação verbal, de Mikhail Bakhtin, trechos de O enunciado, a unidade da comunicação verbal. Trechos que me interessam para a aula.

1. Pg. 289. Crítica a Humboldt por este afirmar que, “abstraindo-se a necessidade de comunicação do homem, a língua lhe é indispensável para pensar, mesmo que tivesse de estar sempre sozinho”. A escola de Vossler passa para o primeiro plano a dita função expressiva.

1.1. A essência da língua, de uma forma ou de outra, resume-se à criatividade espiritual do indivíduo. A linguagem é considerada do ponto de vista do locutor como se este estivesse sozinho, sem uma forçosa relação com os outros parceiros da comunicação verbal.

1.2. E, quando o papel do outro é levado em consideração, é como um destinatário passivo que se limita a compreender o locutor. O outro é menosprezado. Na página 292, a gramática concebe um estudo que menospreza o outro.

2. Pg. 293. Unidade real da comunicação verbal: o enunciado. A fala só existe, na realidade, na forma concreta dos enunciados de um indivíduo: do sujeito de um discurso-fala. O discurso se molda sempre à forma do enunciado que pertence a um sujeito falante e não pode existir fora dessa forma.

2.1. As fronteiras do enunciado concreto, compreendido como uma unidade da comunicação verbal, são determinadas pela alternância dos sujeitos falantes, ou seja, pela alternância dos locutores.

2.2. Pg. 297. A oração que se torna enunciado completo adquire novas qualidades e particularidades que não pertencem à oração, mas não ao enunciado, que não expressam a natureza da oração mas do enunciado e que, achando-se associadas à oração, completam-na até torná-la um enunciado completo.

2.3. Pg. 297. A oração, como unidade da língua, é desprovida dessas propriedades; não é delimitada em suas duas extremidades pela alternância dos sujeitos falantes, não está em contato imediato com a realidade (com a situação transverbal) e tampouco está em relação imediata com os enunciados do outro, não possui uma significação plena nem uma capacidade de suscitar a atitude responsiva do outro locutor, ou seja, de determinar uma resposta.

2.4. As pessoas não trocam orações, assim como não trocam palavras (numa acepção rigorosamente linguística), ou combinações de palavras, trocam enunciados constituídos com a ajuda de unidade da língua (...).

2.5. Pg. 298. A obra, assim como a réplica do diálogo, visa a resposta do outro (dos outros), uma compreensão responsiva ativa, e para tanto adota todas espécies de formas: busca exercer uma influência didática sobre o leitor, convencê-lo, suscitar sua apreciação crítica (...), etc.

2.6. O primeiro e mais importante dos critérios de acabamento do enunciado é a possibilidade de responder.

2.7. Pg. 300. A língua materna – a composição de seu léxico e sua estrutura gramatical – não a aprendemos nos dicionários e nas gramáticas, nós a adquirimos mediante enunciados concretos que ouvimos e reproduzimos durante a comunicação verbal viva que se efetua com os indivíduos que nos rodeiam. Assimilamos as formas da língua somente nas formas assumidas pelo enunciado e juntamente com essas formas.

2.8. Pg. 301. Aprender a falar é aprender a estruturar enunciados (porque falamos por enunciados e não por orações isoladas e, menos ainda, é óbvio, por palavras isoladas).

2.9. Pg. 313. Mas a utilização da palavra na comunicação verbal ativa é sempre marcada pela individualidade e pelo contexto. Pode-se colocar que a palavra existe para o locutor sob três aspectos: 1) como palavra neutra da língua da língua e que não pertence a ninguém; 2) como palavra do outro pertencente aos outros e que preenche o eco dos enunciados alheios; 3) e, finalmente, como palavra minha, pois, na medida em que uso essa palavra numa determinada situação, com uma intenção discursiva, ela já se impregnou de minha expressividade.

3) Pg. 320. O enunciado, desde o início, elabora-se em função da eventual reação-resposta, a qual é o objetivo preciso de sua elaboração. Os outros, para os quais meu pensamento se torna, pela primeira vez, um pensamento real (e, com isso, real para mim), não são ouvinte passivos, mas participantes ativos da comunicação real. (...). Todo enunciado se elabora como que para ir ao encontro dessa resposta.

domingo, 28 de março de 2010

Para o Enem-2000


Aluno(a)s, pedi a vocês um esquema (relação entre signos) relacionado ao Exame Nacional do Ensino Médio de 2000, que apresenta quatro textos, sendo um deles uma charge de Angeli, do jornal A Folha de São Paulo.

Na charge, relacionam-se Mãe-Papai Noel-Coelhinho da Páscoa. Os três nomes representam fantasia. Pois bem, além de registrar o esquema, vocês deveriam pesquisar o signo fantasia para interpretá-lo, por exemplo, na festa natalina.

Retiremos do livro O imaginário vigiado, de Dênis de Moraes.

I) Imaginário Social

1. Trata-se de uma produção coletiva, já que é o depositário da memória da família e os grupos recolhem de seus contatos com o cotidiano. (Pg. 38)

2. Bronislaw Baczko assinala que é por meio do imaginário que se podem atingir as aspirações, os medos e as esperanças de um povo. (Pg. 38)

3. A imaginação é um dos modos pelos quais a consciência apreende a vida e a elabora. A consciência obriga o homem a sair de si mesmo, a garimpar satisfações que ainda não encontrou. (Pg. 39)

4. Devemos distinguir, como Bloch, a imaginação da fantasia: a primeira tende a criar um imaginário alternativo a uma conjuntura insatisfatória; a segunda nos aliena num conjunto de ‘imagens exóticas’ nas quais procuramos compensar uma insatisfação vaga e difusa.
(Pg. 40)

quinta-feira, 18 de março de 2010

do dia 16 ao 18


As bases do pensamento gramatical

Em Pedagogia, optei pela origem da gramática. Para tanto, levei à sala de aula o livro "Crátilo", de Platão, e "A vertente grega da gramática tradicional", de Maria Helena. Por meio dessa aula, perceber que a gramática organizou a escola e que essa organização encontra-se em crise por causa de novos parâmetros.

1.Quem é Gramática? ("A aventura semiológica", de Roland Barthes)

1.a. Filologia, a virgem sábia, é prometida a Mercúrio; recebe como presente de núpcias as sete artes liberais, sendo cada uma apresentada com os seus símbolos, sua roupagem, sua linguagem. Grammatica, uma das artes liberais, é uma senhora de idade que viveu na Ática e usa trajes romanos; num cofrinho de marfim, guarda uma faca e uma lima para corrigir os erros das crianças.

2. A palavra e os gregos ("A vertente grega da gramática tradicional", de Maria Helena de Moura Neves)

2.a. Desde Homero, autor de Ilíada, aparecia em seus heróis a retórica; mas, à medida que se formava a polis grega, ao lado da linguagem poética, criava-se a linguagem dos oradores ou a linguagem retórica. Essa linguagem disciplina-se em uma téchne, formal e normativa.

2.b. Há nesse período duas linguagens: a poética e a retórica. O discurso filosófico surge entre nessa época. Do problema da relação entre as coisas e seu princípio, entre as coisas e que as governa, entre as coisas e sua natureza, especifica-se o discurso filosófico.

2.c. Tales (624 ou 625-556 ou 558 a. C.): o princípio de todas as coisas é a água. A água é o começo (arché) das coisas. Anaximandro (610-547 a.C.) exige a noção de phýsis. O princípio das coisas apeíron, uma natureza diferente, ilimitada. Heráclito (aprox. 540-470 a.C.) põe em relevo o lógos como articulação das coisas (tà ónta). O lógos pode ser valor ontológico (Razão, inteligência universal, norma universal do Espírito), cosmológico (lei cósmica, fórmula do devir), lógico (lei do pensamento, lei lógica) ou linguístico (discurso, palavra).

2.d. O lógos é discurso que revela a phýsis.

2.e. Ao invés de designar um elemento, Parmênides (530-460 a.C) designa o ser. O ser é dito uno, eterno, imóvel, compacto, pleno, contínuo. Ser e pensar são o mesmo. Ser e pensar é unidade. O que era princípio para os outros, para Parmênides é simplesmente o ser. Não há mais um princípio único na explicação do mundo.

2.f. Empédocles (490-435 a. C.) e Anaxágoras (500-428 a.C), afetados por Parmênides, colocam o ser dito de diferente maneira pelos homens. Ser e linguagem se separam. Lógos e a coisa se separam.

3. Os sofistas

3.a. Há diferença entre os sofistas, mas existe o comum, que discurso e verdade se identificam, subordinando-se esta àquele.

3.b. Górgias (483-375): As coisas, exteriores a nós, são objeto dos diversos sentidos e, assim, o discurso não pode exprimi-las. O discurso não é as coisas reais e existentes. A linguagem é um instrumento pelo qual se exerce a sugestão e a persuasão. A linguagem conduz a si mesma.

3.c. Se devem persuadir, as palavras devem ser bem compostas, bem soantes e bem aplicadas. Nesse sentido, desenvolvem-se as pesquisas de Protágoras e de Hípias. Pródico também é sofista preocupado também com a justeza dos nomes.

3.c. Protágoras é quem nos oferece amostras de observações de algum valor gramatical. Ele fala de formas diferentes de frases. Ele deixa um legado, a distinção do gênero dos nomes são dados que ficam para uma futura sistematização gramatical embora a atenção dos sofistas à linguagem fosse retórica.

3.d. Os sofistas não dão atenção à análise das frases, à consideração dos seus membros ou da relação entre eles.

4. A palavra segundo Platão

4.a. Para Platão, a linguagem conduz a alguma coisa que não ela mesma. A palavra deixa de ser entendida como instrumento de persuasão para ser vista na sua função de palavra de verdade, que é uma condição da dialética.

4.b. Posta a verdade na relação entre linguagem e as coisas, fica implicada uma dissociação que permitirá colocar a linguagem como objeto de investigação. É ele quem apresenta pela primeira vez a linguagem como objeto de estudo. Lógos e ónoma se separam.

4.c. Na obra "Crátilo", o nome é um instrumento para informar a respeito das coisas e para separá-las.

4.d. Existe nas coisas uma essência permanente, que não depende de nós ou de nosso modo de vê-las. Há, pois, um eîdos, uma ideia das coisas. As ações se realizam segundo sua própria natureza, não conforme nossa opinião. Existe um eîdos do nome, uma ideia do nome, ou seja, o nome é uma imagem de eîdos.

4.e. A justeza de nome depende sempre de uma techne. Techne é fazer conforme a natureza, é o fazer de acordo com o eîdos. O nome é um instrumento, o órganon dessa arte, e, semelhante aos instrumentos das outras artes, como as artes de cortar, de tecer e de furar, ele está a serviço da essência (eîdos) e tem dupla função: instruir e distinguir. Toda competência técnica depende de uma phýsis, e o artífice deve operar segundo os imperativos da natureza, não segundo sua fantasia.

5. “Onde não há texto, não há objeto de estudo e de pensamento.” ("Estética da Criação Verbal”, de Mikhail Bakhtin)

5.a. O texto não é um objeto, sendo por esta razão impossível eliminar ou neutralizar nele a segunda consciência, a consciência de quem toma conhecimento dele. (pg. 333)

5.b. O texto como reflexo subjetivo de um mundo objetivo. O texto é a expressão de uma consciência que reflete algo. Quando o texto se torna objeto de cognição, podemos falar do reflexo de uma reflexo. (pg. 340)

5.c. A língua materna – a composição de seu léxico e sua estruturação gramatical -, não a aprendemos nos dicionários e nas gramáticas, nós a adquirimos mediante enunciados concretos que ouvimos e reproduzimos durante a comunicação verbal viva que se efetua com os indivíduos que nos rodeiam. Assimilamos as formas da língua somente nas formas assumidas pelo enunciado e juntamente com essas formas. (pg. 301)

5.d. Aprender a falar é aprender a estruturar enunciados (porque falamos por enunciados e não por orações isoladas e, menos ainda, é óbvio, por palavras isoladas. (pg. 302)

5.e. (...), não lidamos com a palavra isolada (...). A significação da palavra se refere à realidade efetiva nas condições reais da comunicação verbal. (pg. 310)

6. “Não vemos o poder que reside na língua.” ("Aula", de Roland Barthes)

6.a. O poder é, simetricamente, perpétuo no tempo histórico: expulso, extenuado aqui, ele reaparece ali; nunca perece; façam uma revolução para destruí-lo, ele vai imediatamente reviver, re-germinar no novo estado de coisas. A razão dessa resistência e dessa ubiqüidade é que o poder é o parasita de um organismo trans-social, ligado à história inteira do homem, e não somente à sua história política, histórica. Esse objeto em que se inscreve o poder, desde toda eternidade humana, é: a linguagem – ou, para ser mais preciso, sua expressão obrigatória: a língua. (pg. 12)

6.b. A linguagem é uma legislação, a língua é seu código. Não vemos o poder que reside na língua, porque esquecemos que toda língua é uma classificação, e que toda classificação é opressiva. (pg. 12)

6.c. Sou obrigado a escolher sempre entre o masculino e o feminino, o neutro e o complexo me são proibidos. Falar, e com maior razão discorrer, não é comunicar, como se repete com demasiada freqüência, é sujeitar. (pg. 13)

6.d. Por outro lado, os signos de a língua é feita, os signos só existem na medida em que são reconhecidos, isto é, na medida em que se repetem; o signo é seguidor, gregário; em cada signo dorme este monstro: um estereótipo: nunca posso falar senão recolhendo aquilo que se arrasta na língua. (pg. 15)

7. No signo, A Genealogia da Moral, de Friederich Nietzsche.

7.a Creio poder interpretar o latim bônus por “o guerreiro”: levando bônus à sua forma antiga de duonus (compare-se bellum – duellum – duenlum, donde parece conservar-se duonus). Segundo isto, bônus seria o homem da disputa (duo), o guerreiro: eis o que constitui a bondade de um homem da Roma antiga. (pg. 6)

8. No signo, a luta de classe. ("Marxismo e filosofia da linguagem", de Mikhail Bakhtin)

8.a. Admitamos chamar a realidade que dá lugar à formação de um signo de tema do signo. Cada signo constituído possui seu tema. (pg. 45)

8.b. O tema ideológico possui sempre um índice de valor social. Por certo, todos estes índices sociais de valor dos temas ideológicos chegam igualmente à consciência individual que, como sabemos, é toda ideologia. Aí eles se tornam, de certa forma, índices individuais de valor, na medida em que a consciência individual os absorve como sendo seus, mas sua fonte não se encontra na consciência individual. O índice de valor é por sua natureza interindividual. (pg. 45)

8.c. Classe social e comunidade semiótica não se confundem. Pelo segundo termo entendemos a comunidade que utiliza um único e mesmo código ideológico de comunicação. Assim, classes sociais diferentes servem-se de uma só e mesma língua. Consequentemente, em todo signo ideológico confrontam-se índices de valor contraditórios. O signo se torna a arena onde se desenvolve a luta de classe. (pg. 46)

8.d. Na realidade, não são palavras o que pronunciamos ou escutamos, mas verdades ou mentiras, coisas boas ou más, importantes ou triviais, agradáveis ou desagradáveis, etc. A palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial. É assim que compreendemos as palavras e somente reagimos àquelas que despertam em nós ressonâncias ideológicas ou concernentes à vida.

9. O poder no signo. ("1984", de George Orwell)

9.a. – É lindo destruir palavras. Naturalmente, o maior desperdício é nos verbos e adjetivos, mas há centenas de substantivos que podem ser perfeitamente ser eliminados (...).